sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fampridina melhora a deambulação em alguns pacientes com esclerose múltipla


Resultados de um estudo fase 3 publicado no Lancet demonstraram que a fampridina (ou 4-aminopiridina), um bloqueador oral dos canais de potássio, melhorou a capacidade de deambulação em alguns pacientes com esclerose múltipla (EM) independente do tipo de EM ou da utlização de medicamentos concomitantes. Apenas alguns pacientes, entretanto, apresentaram alguma resposta, e os pesquisadores não foram capazes de determinar fatores preditivos para a resposta ou não ao tratamento. Os efeitos foram rápidos e reversíveis, tornando possível a detecção da resposta individualmente, e não através da análise estatística de grupos de pacientes, como observado em relação aos imunomoduladores prescritos para controle dos surtos.
Este estudo multicêntrico, que avaliou a utilização de fampridina numa formulação de liberação controlada
(ainda não disponível para comercialização), incluiu 301 pacientes, avaliados durante 14 semanas em um desenho duplo-cego, controlado por placebo, comparando o medicamento na dose de 10 mg duas vezes ao dia com placebo. O critério de inclusão era a capacidade de completar duas tentativas do teste de deambulação de 25 pés; esta avaliação era repetida a cada 4 semanas durante as 14 semanas de duração do estudo. O critério de resposta era o aumento da velocidade de deambulação em pelo menos 3 das 4 avaliações quando comparada à maior velocidade obtida sem a utilização do medicamento. Trinta e cinco por cento dos pacientes usando fampridina (e apenas 8% do grupo placebo) obtiveram este resultado (P<0,0001).>Apenas 2 eventos sérios (sepse com crise convulsiva focal em 1 paciente e ansiedade importante em outro) foram considerados relacionados ao medicamento. Entretanto, os pesquisadores observam que o risco de crises convulsivas evidenciado previamente parece aumentar proporcionalmente à dose de fampridina.
Os resultados de estudos clínicos com esta droga sugerem que apenas alguns pacientes apresentem benefícios claros em qualquer medida funcional em particular, o que poderia estar relacionado ao suposto mecanismo de ação da droga - a melhora da condução em axônios desmielinizados via bloqueio dos canais de potássio voltagem-dependentes. Os autores observam que apenas alguns pacientes poderiam ter axônios em condição de responder a este mecanismo em qualquer momento. Apesar disso, um editorialista, comentando o artigo, enfatiza que pode não ser fácil extrapolar estes resultados para a prática diária, já que é difícil realizar estes testes no dia-a-dia do consultório. Além disso, seria interessante definir melhor quais pacientes potencialmente poderiam responder a este medicamento, o que não foi possível neste estudo. Além disso, embora a formulação de liberação lenta utilizada neste estudo aparentemente tenha um perfil de eventos adversos superior à convencional, deve-se assumir que a janela terapêutica continue pequena, e evitar o uso deste medicamento por pacientes com história de epilepsia, ou ainda atividade epileptiforme identificada em um EEG de triagem.


Em tempo: É importante notar que um composto relacionado, a 3,4-aminopiridina, por apresentar menor penetração no SNC, foi considerado menos efetivo e esteve associado em outros estudos à maior incidência de efeitos colaterais como náusea e dor abdominal.
Referência: Lancet. 2009;373:732-738, 697-698. http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(09)60442-6/fulltext
Em tempo 2: O Comitê Consultivo do FDA recomendou no dia 22 de outubro a aprovação da fampridina, com algumas ressalvas, para tratamento sintomático das dificuldades de deambulação dos pacientes com esclerose múltipla. As ressalvas incluem o uso da medicação em pacientes com historia de crises convulsivas e prejuízo da função renal.Os pacientes também devem ser informados de que a droga pode causar transtornos de equilíbrio, com tonteira, instabilidade postural e que nem todos os pacientes apresentam resposta satisfatória; além disso, não sabemos quais são os pacientes que responderão ao medicamento.

Referência: http://www.medscape.com/viewarticle/711160


5 comentários:

  1. Olá Fernanda,
    meu nome é Bárbara. Sou formada em
    Medicina Veterinária e quero fazer uma pesquisa com uso da Fampridina no tratamento da sequela da cinomose em cães que ficam com o posterior paralisado, esses animais possuem sensibilidade, mas perdem a capacidade de deambular.
    Gostaria de saber se esse fármaco pode ser encontrado aqui no Brasil.
    Grata,
    Bárbara

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  3. Oi Barbara, desculpe pela demora em comentar, Infelizmente não tenho conhecimento sobre a venda deste produto no Brasil. Talvez você possa importá-lo, existem empresas especializadas em trazer medicamentos de fora do Brasil; outra alternativa seria tentar manipular. Posso tentar alguma informação para vc, entre em contao pelo email que consta da página.
    Um abraço e obrigado por ler o blog, que ainda está começando... e ainda devagar.

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  4. Tenho um tipo de ataxia episódica, e estou sendo acompanhada pelo doutor Wladimir Kummer de Paula do hospital Sarah em brasilia.
    Preciso saber se a posibilidade e conseguir a medicação fampridina na forma manipulada.
    Aguardo ansiosa!!! karen.nardi@hotmail.com

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  5. Olá Karen, infelizmente até onde eu sei, este medicamento não é vendido no Brasil. Acho que fora também não é encontrado facilmente, mas vc pode tentar empresas especializadas na venda de medicamentos importados, existem várias em SP que vc pode tentar localizar pela Internet. Se souber de alguma coisa te aviso, e vc, se conseguir me fala também!
    Um abraço e obrigada por ler este blog mais que bissexto.

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